segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Assim...

Cheguei à tua casa.
Logo vi uma placa convidativa: ENTRE!
Mas não entrei, preferi tocar a campanhinha, talvez para ver-te por entre as fendas da porta destrancada.

Toquei. E logo te vi ao fim de um longo corredor.

Tua casa, na verdade parecia ser um ateliê que te confinava na imersão de tua poesia e arte.

Vi-te percorrendo aquele corredor longo e sutilmente adornado com algumas plantas. E lá vinhas tu, parece que o toque da campanhinha te despertou de um momento de espera.
Já trazias nas mãos duas obras de arte.

Nem olhei para o teu rosto, nenhuma palavra sequer, estava com olhar fixo nas duas telas que trazias às mãos.
Quis me inundar naquelas mais contemporâneas e mistas expressões da tua arte. Fiz logo uma experiência tátil: percorri com as mãos aquele tecido que havia nas tuas telas. Talvez, fosse só a expressão de meu desejo percorrer teu corpo e sentir, através de meu tato, o sabor de tua pele.
E o silêncio quebrou-se quando ainda olhando para as telas eu disse: São lindas!

Erguemos vagarosamente os olhares que permaneciam encontrados. Nosso ponto comum eram as telas, e como num ensaio teatral, o ponto focal do encontro do nosso enxergar subia numa linha reta e vertical até se romper no deslumbramento de nossos olhos. Agora já não havia mais ponto focal comum, apenas meu olhar fixo no teu, e teu olhar fixo no meu.
Um sorriso envergonhado e cheio de desejo, de vontade, de necessidade... cheio.

A mágica daquele momento mudou suavemente.
E tu, carinhosamente, aproximaste meu rosto do teu, segurando-me pela nuca.
Meu coração palpitava mais velozmente.
Numa fração de segundos pude sentir teu hálito, parece que não havia outro caminho a não ser o encontro de nossos lábios.
E nos beijamos. Foi delicioso sentir minhas mãos adentrarem em tua nuca, sentir teus fios curtos e sedosos. E não menos delicioso, foi sentir meus lábios tocarem os teus. E bem não menos delicioso foi sentir tua saliva adentrar minha boca com todo aquele sabor de desejo e quietude.

Assim...



Texto: Henry Pôncio Cruz
Imagem disponível em http://blogfullmoon.blogs.sapo.pt/arquivo/beijo.jpg. Acesso em 13out2008.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Criar o que será!!!

As vezes a poesia cala. E quando cala a música é capaz de falar em meio ao silêncio poético e traduzir o interior, o sentimento, o anseio, o chão e a falta dele. Por isso:


Numa corrente de verão
Composição: MARCOS VALLE/JORGE VERCILLO

Vento soprou minha ilusão
flor de algodão,meu pensamento
pulou muro, foi embora,looping no ar
numa corrente de verão
pro ninho de algum pardal, décimo andar
pela janela, cai no pêlo
de um cachorro animado para passer

No ventilador do elevador
lá vai a minha ilusão, flor de algodão
quase passou carro por cima
atravessou a rua inteira na contramão
se estatelou pelas vitrines
mais um golpe de ar, vai passear
a tarde inteira para pousar na sua mão

Eu não sou de olhar o que passou
nem lamentar o que se foi
Sou de criar o que será

É como os relógios de Dali
é como as torres de Galdi
como Brasília para Oscar
ou no arremesso de um outro Oscar

Assim eu vou no vento
sou uma folha de pensamento
Einstein andou no tempo
cruzou paredes e rio por dentro

É, nosso futuro assim será
feito uma escada a se formar
por sob os pés de quem sonhar
de quem ousar pensar além

Eu não sou de olhar o que passou
nem lamentar o que se foi
sou de criar o que será
de quem ousar pensar além

Imagem: Extraída de insidemywords.blogspot.com por David RodrigueZ.
Composição musical de Marcos Vale e Jorge Vercillo.