domingo, 5 de dezembro de 2010

Poesia para ela


Vou fazer uma poesia para ela, vou procurar as palavras, a inspiração, a êxtase poética, a elevação mais sublime para falar dela.

Ai que poeta ingênuo! Ela é em si mesma a mais torrencial inspiração-êxtase-elevação-poesia.


Sigo eu (ingênuo poeta) olhando-a e vivendo essa necessidade de com ela aprender a ser-chorar-rir-silenciar-viver.

A voz coerente dela me anima, a minha-dela-nossa forma de pensar-nos fala outra língua. Uma língua ininteligível que só poucos, muito poucos, alcançam dar um significado minimamente coerente. Essa minha-dela-nossa capacidade de estarmos conectados é incomensuravelmente transcendente, parece coisa de muitas e muitas vidas passadas que se substancia na vida presente e sinaliza muitas outras vidas futuras. Como talvez diria um tal Caio: doce, uma doçura de amizade-complementaridade-compreensão-alcance-infinitude-saudade.

Vou tentando fazer uma poesia para ela, mas versos não dão conta, textos não dão conta, palavras não dão conta... O mais sublime disso tudo reside na tentativa de se dirigir a um infinito-amor-amigo que por sua natureza escapa a qualquer forma objetiva-subjetiva de expressão.

Preciso tentar uma poesia doce, singela, tranquila, uma canção de amizade dizendo tudo a ela, ou tentando dizer alguma coisa a ela, coisa essa que exprima a minha-dela-nossa intensa-perene-infinita amizade-sentimento. Minha tentativa-canto-texto-poesia é só pra dizer que tudo isso é por ela, para ela, que ela é eixo, norte e sul.

Continuo a tentar fazer essa tal poesia para ela. Para ela.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Quero todas


Minhas dores, quero todas. Quero sentí-las responsavelmente, para em sua efusão perceber sua fugacidade e rir de sua brevidade. E se não houver brevidade que eu invente sua passagem efêmera e não menos dilacerante. E que ainda assim eu ria.

Minhas angústias, abraço todas. Que dentro delas eu consiga ver além das imagens que elas me fornecem. Que elas acalmem meus dias e me impulsionem para o novo. Que apertem meu peito, façam-me lacrimejar, mas que não tenham o poder de sucumbir a vida que brota de dentro de mim. Que eu as domine e que no mais inventivo domínio elas também sejam breves.

Minhas alegrias, distribuo todas. Que elas estejam no meu sorriso, no meu olhar, no meu falar... no meu aproximar. Que elas, com não menor fugacidade, sejam infinitamente propulsoras.

(Escrito na Porta do Sol, aos 04 dias de janeiro de 2007)

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Almas doces e estrangeiras


Chegaram no mesmo mês, com apenas dias de diferença. Rafa chegou antes e procurou instalações na cidade, não andou muito e achou algumas possibilidades. Visitou uma casa amarela cheia de aconchego mas decidiu morar no prédio vizinho num apartamento imenso. Era apenas a exteriorização da necessidade de imensidão que Rafa encerrava dentro de si. Rafa sempre gostou de transitar com espaço e maturidade nos cômodos da sua casa e dentro de sua interioridade... tinha aquela tal liberdade. Ocorreu que a mesma casa amarela cheia de aconchego se tornaria o casulo temporário de Gustavo que viera de uma metrópole barulhenta e com vários sonhos de liberdade nas malas. Rafa e Gustavo não se cruzaram por quase três meses... nem na padaria, nem na praça, nem nos barzinhos, nem no shopping... mas um dia a virtualidade apresentou estas almas doces. As conversas ficaram intensas... e apenas algumas paredes separavam estas duas almas doces de num encontro. Mais conversas e mais afinidades... Quanta doçura!!! Mais conversas e mais doçura... Quanta afinidade!!! As almas embebidas de doçura resolveram rasgar a cortina que as separavam e no frio da serra puderam contemplar seus olhos... e com conversas doces puderam partilhar coincidências como a da casa amarela. Os corpos tremiam por causa do frio da serra e as almas doces foram embora. No carro, num súbito olhar e toque de mão... Gustavo atacou a nuca de Rafa e com um beijo deliciosamente demorado e cheio de coisas doces selaram aquele encontro. O caminho se tornou leve como os toques das mãos, os carinhos e o calor gerado pelo atrito da pele dessas almas doces... Era um momento mágico e de tanta doçura que ambas as almas estavam num êxtase terreno que cessou com a despedida desejosa de mais momentos doces. A memória da pele, do hálito e dos sabores já havia registrado que essas almas eram especiais e mereciam construir mais memórias doces. Mas Gustavo confinou-se em seu casulo com certa dúvida e tristeza... era a metrópole que clamava por sua volta... num momento tão inconveniente e ao mesmo tempo propício. Rafa com respeitoso e incomodado silêncio provocou algumas falas de Gustavo que tateando no medo da paixão recuou e fez de seu casulo sua morada. Gustavo não queria magoar Rafa nem sofrer pelo fim de um talvez amor que nem começou mas já dava sinais de vitalidade. E essas doces almas estrangeiras viram tudo prosseguir na virtualidade dos computadores e dos telefones celulares. Além das memórias da pele, dos hálitos e dos sabores... há apenas esse texto que registra a imensidão daquele encontro... e a suave e racionalizada dor que se dissipará nos próximos dias.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Extremamente humano


Descobrir-se parece ser um processo de contínuas surpresas
Entender-se parece exigir um esforço cognitivo incalculável
Aceitar-se parece ser resultado de um projeto de maturidade
Amadurecer parece exigir uma profunda capacidade de ver a si mesmo e ao outro

Lidar consigo mesmo... é luta cotidiana
Ouvir as próprias dores... é exercício de maturidade
Dialogar com estas dores... é necessidade
(Re)Significar as próprias dores e limites... é evolução

Ver a vida chegar... partir... voltar... ou nunca mais ver
Sentir a vida chegar... partir... voltar... ou nunca mais sentir
Perceber a vida chegar... partir... voltar... ou nunca mais perceber

Parece ser... ou é... extremamente humano.



Texto: Henry Poncio Cruz de Oliveira

sábado, 26 de junho de 2010

Porta

Quebraram as fechaduras e ela já não pode mais ser encerrada. Mas quem as quebrou e quando foram quebradas?

Só sinto esses feixes de luz que as vezes me invadem pela fresta e denunciam essa tal abertura longitudinal que se solidifica numa profunda espera.

Ela está aberta. É fato! E os fatos constatam um desejo meio cotidiano de que alguém traga uma nova fechadura e complete... e me complete

De cá, vou deliberadamente escancará-la, ainda que a luz cause desconforto aos meus olhos por evidenciar a necessidade do toque, do beijo, do afago... do desejo de que ela seja delicadamente fechada, sutilmente adornada, amorosamente reaberta, completamente cuidada





segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Recomeçar seguindo


Recomeçar ao sabor de Vanessa da Mata,
Depois de rir na arte de teatralizar profanamente a vida,
E banhar-se do despir-se das coisas ruins, porém necessárias,

Para...
Expandir-se ao som da própria escrita,
Embriagar-se da beleza objetiva da ciência,
Beber das mais límpidas fontes informacionais,

E...
Seguir para um destino raro,
Construir-se em terreno desejadamente novo,
Sedimentar-se no exercício da ética,
Construir ansiosamente a felicidade na feliz.cidade

Texto: Henry Pôncio Cruz de Oliveira